AEPBS: Joane a caminho da sustentabilidade - Entrevista ao Presidente da Junta de Freguesia
24 / fev / 2021
No dia 3 de fevereiro, as alunas Adriana, Ana João, Filipa e Inês, da turma G do 11.º ano, reuniram-se para realizar uma entrevista ao Senhor Presidente da Junta de Freguesia de Joane, Dr. António José Oliveira. Esta entrevista insere-se no âmbito do projeto “Our city, a better city”, que integra o AEPBS e outras escolas de Itália (Sicília e Veneto) e Turquia (Serdivan). As questões abordadas englobam conteúdos, igualmente, das disciplinas de Filosofia e de Geografia, articulados, pelo que a informação recolhida será útil no âmbito destas áreas curriculares. O Senhor Presidente respondeu a algumas questões sobre seis temas: Planeamento Urbano, Infraestruturas, Ambiente, Acolhimento, Promoção dos produtos locais e Consciência, conhecimento e formação, os quais constituem os parâmetros estabelecidos pelo movimento Cittaslow, nascido em Itália, na cidade de Orvieto. Juntamente com as informações recolhidas com a nossa observação, queríamos averiguar se a vila de Joane reúne condições para se juntar ao grupo de Slow Cities, pelo que a entrevista foi muito importante para alargar o conhecimento que temos da área em que nos inserimos. Relativamente ao ponto “Planeamento Urbano”, o Sr. Presidente referiu que o planeamento urbano da vila depende, sobretudo, da cidade de Famalicão, através do PDM. Reconhecendo que o conceito de planeamento urbano é recente e ainda incipiente, e que a vila foi crescendo sem um plano muito consistente, um dos objetivos da ação deste é organizar o espaço entre as várias áreas residenciais, industriais, agrícolas e florestais. Nesta vila, a indústria não é pesada, pelo que a existência de edifícios industriais junto a zonas residenciais não prejudica a qualidade de vida da região, e constitui, até, um sinal do seu dinamismo industrial e económico. É incontornável o facto de Joane ser atravessada pela Estrada Nacional 206, o que provoca algum congestionamento no trânsito. Por essa razão, planeia-se criar mais vias para descongestionar a referida EN, nomeadamente em Vermoim e na direção Joane-Braga. Muitas ruas não dispõem ainda de passeio, o que se está a construir, de modo a permitir a mobilidade de todos em segurança. Quanto ao desenvolvimento industrial e a sua relação com o progresso socioprofissional, o Sr. Presidente ressaltou que, maioritariamente, a indústria têxtil é a predominante nesta região, sendo que muitas empresas, sobretudo as de pequena dimensão, não são muito lucrativas. Uma ação importante, no âmbito do planeamento urbano, foi o desmantelamento da fábrica que se situava no centro da vila, no espaço hoje ocupado pela escola secundária. Esta retirada aconteceu em 2001 e foi relevante para o planeamento do centro de Joane, hoje livre de indústria, constituindo um território que congrega instituições de interesse para os cidadãos, como a já referida escola e a Junta de Freguesia, e que permitiu, também, a construção do Parque da Ribeira. No que toca às Infraestruturas, o Sr. Presidente fez referência à revitalização de espaços históricos, como a casa de Bernardino Machado, natural de Joane e antigo Presidente da República, e o Solar de Vila Boa, onde nasceu Francisco Jerónimo de Vasconcelos e Castro, administrador do concelho à data da sua fundação em 1835. Estes dois edifícios, para além do seu interesse histórico, poderão constituir uma atração turística, atividade económica que neste momento está pouco desenvolvida em Joane. Não há brochuras com informação sobre esta freguesia – a informação mais relevante sobre Joane pode encontrar-se na página eletrónica da junta de freguesia. A renovação destas habitações poderá juntar-se à rota do turismo industrial, de que a vila quer fazer parte, pelas características que possui. Ainda assim, já se promoveu a produção de pequenos símbolos de Joane, comercializados localmente, como um souvenir da região. A preocupação com a história e a preservação do património vai para além das suas infraestruturas. A proteção do património imaterial, como as suas histórias e tradições, é também uma apreensão, pelo que já se procedeu à gravação de entrevistas com joanenses de relevo, para memória futura. Ainda no contexto das obras, uma das nossas preocupações foi apurar a acessibilidade aos diferentes espaços. Assim, ficamos a saber que apenas um edifício público em Joane ainda não corrigiu a incapacidade de locomoção para pessoas com problemas de mobilidade, e, no caso dos edifícios privados, é mais rara esta facilidade condutora. Quanto aos espaços verdes, o Parque da Ribeira vai ganhar ainda mais 11000 metros quadrados e é de referir, igualmente, que existem parques bem-adaptados, tanto para crianças, como para a prática física. Junto desta área, irão nascer as futuras hortas urbanas, que possibilitarão a plantação de produtos agrícolas para subsistência, em pequenos loteamentos, o que é muito interessante para os fregueses que moram em apartamento e não dispõem de um pequeno jardim. Estão a preparar-se as devidas infraestruturas. Refletindo sobre um espaço destinado a estacionamento, de modo a descongestionar o trânsito no centro da vila, lamenta o facto de a dimensão local não possibilitar a construção de um parque próprio para este fim. No entanto, o campo da feira tem servido essa finalidade, nos dias em que não se realiza o mercado semanal. Relativamente às vias suaves, existe um plano para a construção de itinerários para bicicletas, pela autarquia de Famalicão, que passam pela Estrada Nacional 206, chegando a Joane. Quanto à nossa questão sobre a proximidade dos serviços da Junta de Freguesia aos concidadãos, que constitui uma das características das Slow Cities, o Dr. Oliveira reitera que os horários de receção são adaptáveis à população, e podem ser ajustáveis às necessidades que vão surgindo. Enquanto representante da autarquia, ele próprio está disponível para uma abordagem fora dos horários estabelecidos. Foi dado destaque às reuniões de Assembleia de Junta descentralizadas, realizadas periodicamente em diferentes locais, onde se juntam cidadãos para discutirem assuntos de interesse local e são recolhidas as sugestões dos fregueses, como exemplo de maior princípio democrático, política de aproximação à realidade local e aos concidadãos. Quanto ao tema do ambiente, que é muito caro ao movimento Cittaslow, o Sr. Presidente afirmou que a emissão de gases ou de outras substâncias poluentes não é controlada pela autarquia, mas sim a nível nacional, pela Agência Portuguesa do Ambiente, sendo que Joane apenas denuncia estas emissões quando necessário e pertinente. Visto que o rio Pele se encontra bastante poluído, a autarquia vê-se obrigada a intervir na limpeza dos leitos dos rios. Referiu também que neste momento existe uma associação de freguesias (Airão de Santa Maria, Leitões e São Vicente) para a defesa e proteção do Rio Pele, e também para adequar as suas margens de modo a propiciar a realização de caminhadas. Quanto à qualidade da água, que é inquestionável, o autarca referiu que esta é uma responsabilidade da Câmara Municipal, mas a freguesia controla a qualidade da água dos fontanários. Contudo, quanto ao controlo da qualidade do ar, Joane ainda não tem meios para o fazer, nem esta é sua responsabilidade. No que toca à separação do lixo, essa é feita municipalmente através de campanhas dirigidas à população; as escolas também têm um papel a este nível, sendo muito relevante, mais uma vez, o papel formador das gerações mais novas junto dos seus familiares. Infelizmente, ficamos a saber que não existe, em Joane, uma loja de produtos de segunda mão, mas existem várias a nível concelhio; destacam-se, ainda assim, dois estabelecimentos comerciais, a “Cindinha” e “Pedra e Cal”, como lojas de produtos de origem biológica, com qualidade certificada e onde é possível comprar de forma antiga, avulso. Nestas lojas, como no mercado semanal, é possível encontrar, entre outros, produtos locais. No mercado, em particular, os pequenos produtores agrícolas dispõem de um espaço próprio, o Canto das Lavradeiras. No tema “Acolhimento”, o mesmo informou que ainda há ações a desenvolver no campo do turismo, sobretudo no que toca às rotas do turismo industrial, já referido. Em 2013, foi iniciada uma tradição chamada “Festa da Vila”, com espetáculos e tendas maioritariamente à volta do centro da feira, onde se vendem produtos locais e artesanais, e recentemente foi criada uma plataforma digital para integrar produtos locais para venda, o que constitui também uma forma de superar as dificuldades geradas pela situação de pandemia e levou, em alguns momentos, ao encerramento de locais comerciais. Por fim, e abordando o tema da “consciência, conhecimento e formação”, o Sr. Presidente afirmou que existem formas de promoção de qualidade de vida, incentivando ao exercício físico com um slogan “Pratique desporto, ganhe saúde” no Parque da Ribeira, dirigido a todos os concidadãos, mas referiu, igualmente, os programas intergeracionais, disponíveis sobretudo para a população sénior. Para dinamizar momentos de lazer, foi criado o Celtic Trail, ou seja, um conjunto de atividades em percurso orientado, com caminhadas de entre 25km a 50km, e vários graus de dificuldade. Dinamizam-se, igualmente, iniciativas de nutrição com workshops de culinária. As hortas das escolas são apoiadas a nível logístico, o que mostra a consciência de que estes pequenos quintais também têm um papel formativo junto da população jovem. Para os agricultores, no sentido de se difundirem técnicas agrícolas mais inovadoras e orgânicas, não existem formações específicas; destacam-se, apenas, as relacionadas com a aplicação de certos produtos fitofarmacêuticos; outras, a nível de proteção do ambiente, são da responsabilidade de cooperativas agrícolas. A entrevista forneceu um conjunto de informações específicas sobre a vila de Joane e as políticas de intervenção que já foram desenvolvidas ou que estão planeadas para esta área, de modo a contribuir para a promoção da qualidade de vida dos seus moradores, que são relevantes para o projeto que estamos a desenvolver e para a articular curricular entre os conteúdos de Inglês, Geografia A e Filosofia. Foi uma experiência de inegável importância cívica, pois permitiu-nos comunicar com as autoridades locais e perceber melhor o meio onde nos inserimos e sobre o qual, enquanto cidadãos, podemos também atuar, num exercício de democraticidade, consciência ecológica e cidadania ativa. Agradecemos a atenção e a disponibilidade do Senhor Presidente da Junta de Freguesia de Joane, Dr. José António Oliveira, mais uma vez.