AEPBS: Um olhar sobre Famalicão sustentável - Entrevista ao Vereador da Educação e Cultura
24 / fev / 2021
No âmbito do projeto internacional “Our city, a better city”, que integra o AEPBS e outras escolas de Itália (Sicília e Veneto) e Turquia (Serdivan), as alunas Ana Sofia, Letícia, Mariana e Patrícia, da turma F do 11ºano, reuniram-se para realizar uma entrevista online ao Senhor Vereador Leonel Rocha, responsável pelo pelouro da Educação e Cultura, da Câmara Municipal de V. N. de Famalicão, através da plataforma Google Meet, no dia 28 de janeiro. A entrevista abordou a temática do nosso projeto, a qualidade de vida em pequenos meios urbanos e um modo de vida sustentável. O nosso projeto constitui um pequeno estudo de caso sobre Joane; no entanto, no sentido de nos ajudar a perceber o meio em que nos inserimos, de forma mais lata, esta entrevista trouxe uma perspetiva mais alargada sobre o município de Famalicão, do qual Joane faz parte. Assim, as nossas questões, foram preparadas em grupo, pelas turmas F e G do 11.ºano, sob a orientação das professoras de Inglês, Filosofia e Geografia A, uma vez que estes conteúdos são transversais a estas áreas curriculares. A entrevista englobou as seguintes temáticas: planeamento urbano, infraestruturas, promoção dos produtos locais, ambiente, acolhimento, e conhecimento/formação dos cidadãos, com o objetivo de complementar as observações empíricas dos alunos. A estas questões subjazeram subtemas relacionados com a sustentabilidade e qualidade de vida, no sentido de uma compreensão abrangente e integradora do desenvolvimento económico desta região, o seu progresso social e o respeito pelo ambiente, de forma articulada. As conclusões da entrevista farão parte dos trabalhos integrados no projeto eTwinning. Em termos de planeamento urbano, o sr. Vereador recordou que as políticas municipais têm vindo a desenvolver-se de acordo com o PDM. Sendo esta uma região com grande crescimento industrial, este instrumento define a criação de parques industriais que têm alojado a grande diversidade de empresas do município. O desenvolvimento de Famalicão assenta, sobretudo, nas indústrias metalomecânica, têxtil, agroalimentar e automóvel. Não se tem descurado a proteção ambiental com melhoramentos ao nível da diminuição significativa dos níveis de poluição ambiental, quer ao nível do controlo das descargas para o rio Ave, quer ao nível da poluição do ar, ainda que a este nível o papel de supervisão caiba à Agência Portuguesa do Ambiente, como explicaremos mais à frente. Relembraram-se, também, os avanços ao nível da qualidade do trabalho nas últimas duas décadas, uma vez que as empresas oferecem melhores salários e melhores condições de trabalho, e a diversidade da oferta laboral é notável. Não é alheia a este desenvolvimento a aposta na formação, com o Centro Qualifica, o mais ativo a nível nacional, o que prova, igualmente, a perceção dos cidadãos da necessidade de aprendizagem constante, de atualização dos conhecimentos e da certificação das competências que foram adquirindo ao longo da vida, tornando-se munícipes altamente especializados em algumas áreas de trabalho. A cooperação entre o Centro Qualifica e as empresas é dinâmica, o que favorece a empregabilidade e a progressão laboral. Refletindo sobre as infraestruturas, fez-se uma incontornável referência ao património, tanto cultural como natural. Os munícipes conhecem já os investimentos na reabilitação de edifícios de interesse histórico e cultural, como o Centro de Estudos Camilianos, da autoria do arquiteto Álvaro Siza Vieira, fronteiro à Casa de Camilo, que compreende um auditório, salas de leitura e de exposições temporárias, cafetaria, gabinetes de trabalho e reservas. Sendo, talvez, o conjunto arquitetónico mais representativo dos edifícios histórico-culturais do município, este será alvo de nova intervenção. Está planeada a Casa dos Caseiros, planeada para se assemelhar à que parece ter existido, antes do incêndio de 1915, com a eira e o sequeiro, e que tem por finalidade proporcionar a realização de atividades pedagógicas. Mas há outras infraestruturas a considerar igualmente, como a Casa da Juventude, ou a Casa de Bernardino Machado, precisamente em Joane. Quanto ao património natural, em Joane, não se pode esquecer o Parque da Ribeira, mas o que se destaca, nesta região, pelo seu valor ambiental incalculável, são as Pateiras do Ave. Neste território de Paisagem Protegida Local, que se encontra em zona de cheia do rio Ave, pretende-se continuar a investir, valorizando a biodiversidade e promovendo atividades, com o intuito de favorecer a educação ambiental dos munícipes e contribuir para os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, definidos pelas Nações Unidas. Pretende-se, igualmente, fomentar o gosto e o interesse pelo património, designadamente a consciência de que se deverá proteger e dinamizar o turismo ambiental. O conhecimento e o reconhecimento da relevância do nosso património, como parte da nossa identidade, faz parte das preocupações educativas do município, que patrocina o programa Património Para o Mundo, que procura envolver alunos do ensino básico e do ensino secundário, no desenvolvimento das suas atividades educativas, através de articulação e flexibilização curricular, promovendo, assim, o contexto local na sua relação com o regional, nacional e internacional. No que toca à política de mobilidade, as vias suaves, para bicicletas, são já uma preocupação e poderão ser criadas ligações para os pontos de embarque de transportes públicos. No entanto, continua a notar-se uma preferência geral pelo uso do veículo próprio. Seria importante uma mudança na mentalidade dos munícipes, no sentido de favorecer o uso do autocarro ou a partilha de veículo, pois nota-se que o transporte público está praticamente reduzido ao transporte escolar. Neste aspeto, como noutros, que veremos mais à frente, a escola e as gerações mais novas, poderão ter um papel a desempenhar. Ainda no âmbito das infraestruturas, muitas conquistas têm sido feitas, promovendo-se a acessibilidade de pessoas com mobilidade reduzida, em edifícios públicos (com exceções apenas para os que, pela sua antiguidade, não permitem alterações estruturais) e o planeamento de obras que permitam o acesso a todos, no cumprimento da lei. Também ao nível da construção privada, em particular em residências, nota-se que o princípio do conforto, ligado a uma arquitetura mais sustentável, está, aos poucos, a substituir o da estética per si. Passando para as questões ambientais, que têm um lugar especial numa análise sobre a qualidade de vida numa área urbana, ficamos a saber que a autarquia tem poder de fiscalização, com particular atenção para as descargas nos rios Ave, Pelhe e Pele. Quanto à emissão de gases poluentes, cabe à Agência Portuguesa do Ambiente fazer a supervisão. Destacou-se o Parque da Devesa que, com os Serviços Pedagógicos que desenvolve, tem dado o seu contributo para a formação de jovens e adultos, procurando sensibilizar para as questões da proteção ambiental e a mudança de algumas atitudes. As hortas pedagógicas, neste espaço, excederam todas as expectativas, constituindo um exemplo de formação e aprendizagem. Muitos jovens aprendem o papel da compostagem e da reutilização dos lixos orgânicos nestes espaços. No Parque da Devesa, as hortas urbanas, que tiveram uma procura que superou a oferta e serão, em breve, alargadas e relocalizadas, devido à ampliação do CITEVE. No que toca às hortas, também as hortas escolares são apoiadas logisticamente, e recordou-se, mais uma vez, o papel da escola e dos alunos enquanto formadores dos seus familiares, no que toca a abordagens agrícolas mais orgânicas, mas também na promoção de uma alimentação saudável, para a qual podem contar, também, com o programa NutriEduca, e o contributo das suas nutricionistas. Não foram esquecidos os protocolos com algumas empresas que fazem o tratamento de resíduos, mesmo os da indústria têxtil e os resíduos verdes. Perante a questão da avaliação da consciência ecológica dos famalicenses, o Sr. Vereador daria uma classificação de 4, numa escala de 1 a 5, reconhecendo que há atitudes a melhorar e valorizando o papel das gerações mais novas nessa mudança. No que toca à promoção dos produtos locais, a referência à certificação Made In Famalicão foi incontornável. Esta é uma iniciativa de reconhecimento da qualidade daquilo que é produzido localmente, quer seja tradicional, quer seja produto de inovação. Reside, nesta certificação, o intuito de alavancar os produtos locais no mercado regional e nacional, mas igualmente internacional, sobretudo pela sua diferenciação, ou porque são verdadeiramente inovadores, ou porque a sua qualidade os distingue dos demais, o que tem permitido o seu sucesso, mesmo em situações de agravamento económico, encontrando mercados onde a sua procura é cada vez maior. No que diz respeito à qualidade de vida, reconhece-se que os vetores “casa”, “trabalho” e “tempo livre” são os que contribuem para o bem-estar físico e mental. Destacou-se a programação cultural de excelência no município, que nem sempre é reconhecida pelos concidadãos, estimando-se que 50% dos consumidores da oferta cultural não resida em Famalicão. Há, por isso, que continuar a investir neste setor, nomeadamente na promoção dos artistas locais, mas também, divulgar e estimular o gosto pela cultura em geral, nos seus diferentes formatos. Por essa razão, foram já tomadas ações no que diz respeito ao Plano Nacional das Artes, articulado pelo município de Famalicão e articulado com as diferentes escolas/agrupamentos, no sentido de promover o consumo de cultura. Por essa razão, também, o acesso aos diferentes museus é acessível, praticando-se preços simbólicos, por forma a torná-los ao alcance de todos. Em conclusão, esta entrevista fez-nos ter uma melhor perceção sobre a região e a cidade onde está inserida a nossa escola. Os aspetos destacados pelo Senhor Vereador foram o progresso/desenvolvimento económico e industrial, associado ao desenvolvimento social. A preocupação pela reciclagem, o ambiente e as alterações climáticas foram também ressaltadas, alertando para o papel da escola e dos alunos, enquanto gerações mais novas e influenciadoras, na alteração da mentalidade e das atitudes, que deverão acompanhar as novas preocupações da sociedade em que vivemos. Famalicão, enquanto Cidade Educadora, apresenta uma preocupação pedagógica: a renovação do património cultural e natural, para além de proteger e renovar a identidade local, foi sempre acompanhada de uma finalidade pedagógica, com a criação de espaços e serviços que patrocinam atividades de interação com toda a população, em particular os mais jovens, e que podem ser articuladas com as atividades das escolas, nos mais diferentes âmbitos curriculares. As hortas, pedagógicas e urbanas foram destacadas, também, pelo papel que podem ter na dinamização de uma agricultura mais orgânica e na valorização de uma alimentação mais saudável. Por outro lado, há aspetos a melhorar. O planeamento urbano com implicações na melhoria do trânsito urbano e das deslocações intramunicipais vai continuar a ser alvo de atenção, mas mantém-se o apelo à troca do veículo próprio pelo público, para que a manutenção de transportes públicos possa ser viável, com implicações ao nível da rede de oferta de rotas, e também de diminuição da poluição. As vias suaves podem também ser desenvolvidas, fomentando o uso da bicicleta. A valorização da oferta cultural constitui outro ponto chave a desenvolver. Esta entrevista com o Senhor Vereador, que respondeu a todas as nossas questões, contribuiu muito para a qualidade do nosso trabalho, no âmbito do projeto eTwinning “Our city, a better city”. Todas as informações foram relevantes para perceber, de forma mais completa, as ações que têm sido desenvolvidas para melhorar a qualidade de vida dos famalicenses e a sustentabilidade desta região, em particular porque esta é uma área altamente industrializada, o que significa que muitos desafios são colocados às autoridades, mas também aos concidadãos. Estas informações irão complementar a entrevista com o senhor Presidente da Junta de Freguesia de Joane. Estas são atividades que, para além de úteis para os nossos objetivos ao nível do projeto, também nos ajudam a compreender melhor os conteúdos das disciplinas de Geografia A e Filosofia, onde estas temáticas são abordadas. Este trabalho de articulação permite-nos ativar a nossa cidadania e aprender a intervir na nossa comunidade, com responsabilidade, pensando nos nossos direitos, mas igualmente nos nossos deveres enquanto concidadãos. A melhoria da qualidade de vida não reside apenas nas ações das autoridades. Cada um de nós tem um papel a desenvolver, por muito pequeno que possa ser. Assim é viver em sociedade, refletindo eticamente sobre a nossa conduta como indivíduos e cidadãos. Os alunos envolvidos no referido projeto agradecem a entrevista e a colaboração aberta e franca do Dr. Leonel Rocha.