A escola a tempo inteiro tem sido uma das principais medidas da política educativa em Portugal, procurando promover a igualdade de oportunidades, apoiar as famílias e alargar o tempo de aprendizagem. No entanto, esta extensão do tempo escolar levanta questões sobre o equilíbrio entre as exigências educativas e os direitos da criança, nomeadamente o direito ao brincar, previsto no artigo 31.º da Convenção sobre os Direitos da Criança. Ao longo dos diferentes níveis de ensino, a extensão do tempo passado na escola tem vindo a consolidar-se como uma realidade quotidiana, com a introdução de atividades complementares, horários prolongados e medidas de apoio às famílias. Quando mal gerido, este tempo pode sobrecarregar as crianças, limitando o lazer, a espontaneidade e a livre expressão. Brincar não deverá ser apenas uma pausa entre as aprendizagens; é essencial ao desenvolvimento global das crianças. O brincar livre favorece competências cognitivas, emocionais e sociais, tal como destacam investigadores como Catherine Garvey, Peter Gray e Teresa Vasconcelos. Contudo, tem-se verificado cada vez mais que o tempo para o brincar livre tem sido substituído por atividades orientadas. Esta tendência adultocêntrica reduz o espaço para a imaginação e a vivência autónoma. Apesar das boas intenções das políticas públicas, importa repensar o tempo escolar, as AEC, os espaços de recreio e o brincar como direito e necessidade. O AEG oferece um exemplo inspirador de como responder a esta realidade. Os seus projetos não só se alinham com o modelo da escola a tempo inteiro, como respeitam os direitos e necessidades das crianças, promovendo o brincar, a expressão, a natureza, a diversidade e a criatividade. O projeto “Eu na Natureza”, promove o contacto com o ambiente natural e a brincadeira livre. “Falar Melhor, Aprender Melhor” foca-se no desenvolvimento da linguagem num ambiente lúdico e relacional, criando pontes entre brincar e aprender. O “Ecochupetão” aborda temáticas ambientais e de saúde de forma criativa e participativa, envolvendo as crianças na construção de valores e de um desenvolvimento mais saudável. “A Magia das Letras” alia a literacia à imaginação, através de histórias e jogos, integrando o brincar na aprendizagem formal. O projeto +IN (INtegração, INclusão, INterculturalidade) valoriza a diversidade cultural e promove uma escola integradora. A iniciativa “As Brincadeiras da Minha Infância” recolhe memórias de jogos tradicionais de alunos de várias nacionalidades, celebrando o brincar como linguagem universal e património educativo. Estes projetos, entre outros, mostram uma visão holística e humanizada da escola a tempo inteiro: não apenas um prolongamento de horário, mas um espaço de vida, criação e relação. O trabalho desenvolvido no AEG centra-se na criança, devolvendo-lhe tempo, espaço e liberdade para brincar, respeitando o ritmo da infância e a conexão entre pessoas. Anabela Alvarenga Terapeuta da Fala