E, de repente, foi o começo - o frenesim dos ensaios, a euforia do pisar de um grande palco pela primeira vez, os laços criados nas inúmeras viagens entre Famalicão e Guimarães e, ainda, o eco dos aplausos de um público de pé, rendido aos sentires dos participantes. Foi no âmbito do projeto “+ Inclusão/ Fora de Portas”, parceria entre A Oficina e a companhia Dançando com a Diferença – companhia inclusiva que integra diferentes públicos nas suas conhecidas performances de e para todos - que decorreram no Grande Auditório Francisca Abreu (Centro Cultural Vila Flor), duas sessões do “Endless”. Dirigido pelo reputado coreógrafo Henrique Amoedo, este espetáculo contou com a participação de alunos e utentes de várias instituições: desde a Associação de Paralisia Cerebral de Guimarães, a diversos lares e casas de repouso da região, integrando utentes da Cooperativa de Educação e Reabilitação de Cidadãos Inadaptados do Concelho de Guimarães e alunos dos Centros de Apoio à Aprendizagem das Escola Básica de Segundo e Terceiro Ciclos de Abação; Agrupamento de Escolas João de Meira e Agrupamento de Escolas Francisco de Holanda. Neste contexto fértil em diferença e inclusão, o Agrupamento de Escolas D.Maria II teve o privilégio de também integrar o projeto, a título individual, desde o início de abril, no último open call para o espetáculo “Endless". A participação insere-se no projeto cultural de escola (PCE), a partir do tópico "A Indústria e seus Impactos", e no Plano Nacional das Artes (PNA). Desta forma, o departamento de educação especial almejou criar pontes que nos aproximem cada vez mais da diferença, numa perspetiva de escola inclusiva, de todos e para todos, integrada na oferta do projeto cultural de escola e na identidade da comunidade que a rodeia. Tratou-se de uma experiência única e imersiva no seio de uma companhia com reconhecimento transnacional e altamente significativa no âmbito das artes performativas. O espetáculo foi o culminar de oficinas, ensaios, formações e emoções. As diretoras de turma dos alunos envolvidos e os respetivos encarregados de educação autorizaram, desde logo, a participação de todos os intervenientes, abrindo-lhes todo um mundo sensorial fecundo em ritmos, sensações, transgressões e emoções. O agrupamento teve presença e participação nos ensaios em abril, desde o dia oito até ao dia vinte e oito – ensaios que decorreram na Plataforma das Artes e no CCVF, em Guimarães. A professora Helena Rial Ferreira, que coordenou a participação do departamento de educação especial no projeto, bem como toda a logística e intervenção dos alunos, da professora e da auxiliar educativa diretamente envolvidos, traça um balanço positivo do decorrer dos ensaios e sessões de espetáculo, olhando, já com saudade e gratidão, para o tempo que medeia entre o primeiro ensaio e a última performance frente a um auditório repleto de gente visivelmente emocionada ante a grandiosidade do espetáculo. Assim, destaca a motivação e sentido de responsabilidade de todos os intervenientes e a disponibilidade com que a direção da escola prontamente abraçou a iniciativa e financiamento de toda a logística inerente (deslocação no transporte de táxi). Do mesmo modo, a docente parabeniza os alunos do Centro de Apoio à Aprendizagem, da sala dezoito deste agrupamento, que integraram o projeto - Duarte Machado (5°A) e Diogo Magalhães (8.°E) - bem como as alunas do ensino articulado de dança - Madalena Ribeiro e Regina Henriques (8.°A) - pelo talento, a dedicação e o inquestionável contributo artístico para a dinâmica do espetáculo, a qual foi reconhecida pelo coreógrafo e pelo público. Agradece ainda a presença de todos os colegas que se deslocaram ao local do espetáculo, sendo gratificante o seu incondicional apoio. Como reflexão final, a professora Helena Rial, presença diária no acompanhamento dos alunos e também parte do elenco, acredita “que as mentalidades mudam ante um produto final de elevada qualidade, o qual nos dá provas de que têm mesmo de mudar”, concluindo que esta performance nos despiu de tudo e nos levou a sermos, por quase duas gratificantes horas, mais humanos. Indo mais longe, no limiar de uma terceira guerra mundial, o “holocausto” foi o tema aglutinador da performance, através da representação de episódios da vida nos campos de concentração: os banhos, as câmaras de gás e o extermínio. Assim, o coreógrafo, consciente ou inconscientemente, toca não só no imaginário coletivo da geração pós-guerra, com raízes indiscutíveis na pesada herança do extermínio nazi, como também toca na realidade atual, em que, infelizmente, a História se repete no pior que tem para oferecer à Humanidade – a matança inusitada e injustificada, a barbárie. A participação dos alunos no projeto não seria possível sem o apoio das professoras Alice Mesquita, Gabriela Gomes, Helena Rial Ferreira, Lurdes Figueiredo, Natália Paiva, sem a colaboração da assistente operacional Raquel Cunha, também ela parte do elenco, e, ainda, sem o serviço de qualidade prestado pela empresa de táxis Rui Candoso, através do seu dedicado taxista Ricardo. E o grupo salienta que «Ansiamos por futuras experiências inclusivas como esta, onde todos se sintam parte de um mesmo mundo».